Quem sofre de hipertensão deve estar atento no inverno: o aumento da poluição do ar nesta época do ano agrava os sintomas da doença. Isso ocorre pela ação de gases tóxicos e material particulado emitidos pelos veículos movidos a combustíveis, como gasolina e diesel. A conclusão é do cardiologista Abrão José Cury Jr., do Hospital do Coração (HCor) de São Paulo. Segundo ele, o número de hipertensos que procuram hospitais no inverno aumenta em até quatro vezes. Eles se queixam de elevação da pressão arterial, desconforto respiratório, tontura, angina e dor de cabeça. O problema se torna mais grave porque a hipertensão é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares (enfarte e Acidente Vascular Cerebral – AVC), que matam cerca de 300 mil por ano.
Nos meses frios, ocorre o fenômeno chamado inversão térmica, que dificulta a dissipação dos poluentes na atmosfera, aumentando os níveis desses gases no ar. Segundo Cury Jr., o óxido de nitrogênio, monóxido de carbono e dióxido de enxofre e o material particulado, que entram na corrente sanguínea pelos pulmões, provocam efeito de vasoconstrição (estreitamento dos vasos sanguíneos) ao agir no endotélio – camada que reveste as artérias. O fenômeno ocorre com pessoas que já sofrem de hipertensão e com aqueles que têm mais de 60 anos. O especialista disse que não é possível afirmar que os gases poluentes possam provocar hipertensão em pessoas sadias. “Para isso, temos de fazer mais pesquisas.”
O estudo que relacionou a hipertensão com os índices de poluentes na atmosfera foi apresentado em 2005 como dissertação de mestrado na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Entre fevereiro de 2001 e dezembro de 2003, 16.573 foram analisadas – 5.503 homens e 11.070 mulheres – com idade média de 50 anos. As queixas dos pacientes foram comparadas aos níveis de poluentes, temperatura e umidade alguns dias antes e depois da data em que foram ao médico. A partir do cruzamento dos dados, Cury Jr. chegou à sua conclusão.
“O que sabemos é que, no frio, o corre vasoconstrição e, no verão, vasodilatação”, disse o especialista. “A poluição é muito ligada a doenças cardiovasculares em geral. Mas não é de se estranhar que exista essa relação (com a pressão sanguínea).” Presidente da Associação Brasileira de Cardiologia, Antonio Carlos Chagas disse que, nos dias frios, os vasos sanguíneos ficam menos relaxados – daí a vasoconstrição. “É indiscutível que, quanto maior a poluição, maiores as chances de ocorrerem complicações cardiovasculares”, afirmou.
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