Novas pesquisas têm mostrado que dormir muito –mais que nove horas– pode ser tão ou até mais prejudicial do que dormir pouco –menos que seis horas.
Um estudo publicado no periódico “Neurology” apontou que pessoas que relataram dormir mais do que oito horas tiveram aumento de 46% no risco de sofrer AVC, quando comparadas àquelas que relataram dormir de seis a oito horas.
Entre aquelas que relataram dormir menos do que seis horas, o aumento foi de 18% (estatisticamente não significativo, segundo os autores). Os pesquisadores estudaram 9.692 pessoas entre 42 e 81 anos que não tinham sofrido AVC antes de seu relato.
Os mecanismos da associação entre dormir muito e os riscos à saúde ainda não são totalmente conhecidos, mas os pesquisadores acreditam que a necessidade de um longo período de sono pode ser um sinal precoce de desregulação no cérebro e risco de sofrer AVC no futuro.
Para Yue Leng, uma das autoras do trabalho, uma possibilidade é que essa desregulação esteja ligada a problemas no fluxo sanguíneo. Estudos experimentais poderão explicar melhor essa relação, ainda desconhecida. Em um comentário sobre o artigo, também na “Neurology”, Camila Hirotsu, pesquisadora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, faz a ressalva de que muitas pessoas tendem a superestimar seu período de sono –elas não dormem tanto assim.
Elas podem estar levando em conta, por exemplo, o horário em que vão para a cama, em vez do horário em que efetivamente pegam no sono.
Como a pesquisa americana se baseia em relatos, isso seria um ponto fraco dos dados. Além disso, parte dos dorminhocos pode ter apneia obstrutiva do sono, que é um fator de risco para doenças cardiovasculares.
A apneia é caracterizada por pausas respiratórias durante o sono que provocam pequenos despertares, não percebidos pelo paciente. “A pessoa acorda irritada e sente sonolência durante o dia inteiro”, diz Mônica Andersen, professora da Unifesp. “O sono é interrompido, e, como a pessoa fica com sonolência muito grande, dorme em qualquer lugar que encosta. O tempo total de sono é até aumentado”, diz Camila.
Um estudo epidemiológico realizado em 2007 na cidade de São Paulo, com 1.042 pessoas que foram avaliadas por questionários e polissonografias, apontou que 33% dessa população tinha apneia obstrutiva do sono.
A apneia é, segundo Geraldo Lorenzi Filho, presidente da Associação Brasileira do Sono, o distúrbio do sono que mais acomete o sistema cardiovascular. Podem acontecer mais de 30 pausas por hora. Essa situação é perigosa porque obriga o coração a fazer mais esforço, e o estado de falta de oxigênio é muito deletério para o cérebro.
Outros estudos associam longos ou curtos períodos de sono com outras doenças, como diabetes e obesidade.
Alterações no sono são prejudiciais porque o sono é fundamental para o organismo. “É um momento de descanso, importante para a reorganização do cérebro”, diz Lorenzi.
(Fonte: Folha de S. Paulo)