Sabemos bem o quanto a Covid-19 prejudica o funcionamento dos sistemas e órgãos quando o vírus está ativo e como as complicações decorrentes a esta infecção podem prolongar o período de internação, trazendo assim importantes sequelas.
A fisioterapia respiratória, que foi bem difundida neste período de pandemia, mostrou seu importante papel na terapia intensiva (UTI).
O que muitos não sabem, após a alta, no famoso Pós-Covid, o papel da reabilitação fisioterapêutica, a fisioterapia respiratória e motora, se intensifica.
Diversas complicações são observadas após a alta hospitalar, principalmente nos pacientes que apresentaram casos mais graves da doença, submetidos a ventilação mecânica invasiva, com permanência prolongada: disfunções respiratórias (falta de ar, queda da oxigenação, secreções, entre outros); disfunções musculoesqueléticas (perda da massa muscular, perda da força muscular, perda das funções das atividades de vida diárias – AVD’s – como: tomar banho, caminhar a curtas distâncias, subir escadas, se alimentar sem auxílio, entre outros).
As fibras musculares presentes em músculos respiratório, (sim, precisamos de músculos também para respirar e o mais conhecido é o diafragma) e músculos periféricos (músculos das pernas e braços, por exemplo), são afetadas já nas primeiras 24 horas de internação, por isso, essa alteração é tão evidente nos casos de pós covid. Estima-se uma perda de massa muscular de cerca de 10% por semana, em pacientes submetidos a sedação e ventilação mecânica (intubação).
No processo de reabilitação, a avaliação individual e detalhada das disfunções e sequelas é o primeiro passo da fisioterapia no auxílio ao retorno deste paciente em seu lar e sua rotina. Esse passo é fundamental para se traçar um plano de tratamento onde a cada objetivo atingido, passa-se para uma nova etapa de independência e funcionalidade.
Em alguns casos, o uso de dispositivos respiratórios são extremamente úteis e auxiliam nessa recuperação, como o uso de concentradores de oxigênio (seja para uso contínuo ou durante os exercícios) ou equipamentos de pressão positiva, como o CPAP e o BIPAP, que contribuem com o aumento da ventilação nos pulmões, promovendo maior expansão e consequentemente maior troca gasosa (saída de gás carbônico com entrada de oxigênio), pois com essas “pressões extras” fornecidas, há abertura de áreas fechadas (alvéolos) decorrentes de diversos mecanismos fisiopatológicos da doença e do longo período de internação.
Um outro recurso ainda pouco explorado, é o uso do cateter nasal de alto fluxo (CNAF), um equipamento de terapia de alto fluxo domiciliar (myAIRVO™2), que pode diminuir o tempo de internação hospitalar e permitir que o processo de reabilitação ocorra fora do ambiente hospitalar, já no domicílio do paciente. Um bom exemplo de aplicação estão os casos mais graves da doença, associadas às doenças pulmonares pré-existentes, como por exemplo, a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, como o Enfisema Pulmonar) ou a Asma, onde já havia uma disfunção na ventilação, podendo adicionar este recurso por períodos maiores que a própria sessão da fisioterapia, visando benefícios mais duradouros.
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A retenção de gás carbônico desses pacientes é importante, assim como o desmame ventilatório e com o uso dessa tecnologia, associada ou não a suplementação de oxigênio promove uma melhora na troca dos gases.
Mesmo que o indivíduo não tenha doença pulmonar prévia, é possível que tenha sido submetido a hemodiálise durante o período de internação, por uma insuficiência renal grave, também decorrente da Covid. A hemodiálise aumenta o risco de atrofia muscular, levando a fraqueza generalizada como sequela e isso requer uma atenção especial na reabilitação motora.
Os exercícios motores são de extrema importância, já que cada vez mais estudos demonstram a importância da força muscular dos membros superiores e inferiores (braços e pernas), atuando diretamente no sistema cardiorrespiratório.
Por isso, não apenas com o intuito de promover novamente a independência do paciente, mas para que ele possa recuperar seu sistema respiratório o quanto antes. Dispositivos também podem ser utilizados para os exercícios motores, como pesinhos, elásticos, ciclo ergômetro, escadas, esteiras.
A associação de dispositivos respiratórios e motores também podem ser úteis, onde a melhora da ventilação e oxigenação, garantirão um melhor rendimento aos exercícios motores, visando ganho de resistência e força muscular, tão preciosos nesse momento.
Para o ganho de força e funcionalidade, o conhecimento e poder de exploração dos recursos existentes e disponíveis por parte do fisioterapeuta só tendem a agregar e promover uma reabilitação global com melhora na qualidade de vida.
Assim como a avaliação é independente, o tempo de tratamento e recuperação também é individual, pois irá depender da gravidade das sequelas, disponibilidade e disposição do paciente, disciplina em realizar os exercícios fora da sessão, apoio familiar, entre outros fatores.
A Covid-19 não só mostrou que a fisioterapia é importante no momento mais crítico da doença, no manejo da ventilação mecânica, assim como quando “quase ninguém se lembra”, o tratamento Pós-Covid, que é mais um grande desafio para quem foi vítima deste vírus.